Quase meio século após a separação de Mato Grosso, o estado se consolida com protagonismo regional, potência agrícola e guardião do Pantanal
Do isolamento à independência: a história viva de Mato Grosso do Sul
Em 11 de outubro de 1977, nascia oficialmente o Estado de Mato Grosso do Sul. A assinatura da Lei Complementar nº 31 pelo então presidente Ernesto Geisel cravava uma divisão territorial que vinha sendo gestada entre tensões políticas, interesses econômicos e o clamor de uma população que já se sentia distante – geográfica e politicamente – do antigo centro administrativo em Cuiabá. Neste 11 de outubro de 2025, o estado celebra seus 48 anos de emancipação política. E o faz com uma identidade consolidada, apesar das complexidades do passado e dos desafios do futuro.
O movimento que moldou um novo mapa
A região sul de Mato Grosso, na época, acumulava ressentimentos históricos. A distância da capital e a falta de investimentos reforçavam o sentimento de abandono. Ainda sob o regime militar, lideranças locais, especialmente ligadas ao agronegócio, articularam junto ao governo federal uma divisão que visava acelerar o desenvolvimento regional e garantir maior autonomia administrativa.
A população, porém, teve pouca participação direta nesse processo. A decisão veio de cima, mas a nova configuração geopolítica seria irreversível. A Assembleia Legislativa do novo estado foi instalada em janeiro de 1979, e dali em diante o sul-mato-grossense passou a escrever sua própria história.
Os primeiros governadores foram nomeados por Brasília, reflexo da centralização militar. Mas com a redemocratização, Mato Grosso do Sul passou a trilhar seus próprios caminhos eleitorais. A estrutura administrativa se moldou, surgiram novas secretarias, escolas, hospitais, estradas. Campo Grande, a capital escolhida, tornou-se o coração pulsante de um estado em transformação.
Agronegócio, fronteiras e potencial
Com terras férteis e localização estratégica, Mato Grosso do Sul se consolidou como potência agrícola. A produção de soja, milho e carne bovina ganhou destaque nacional. Sua posição fronteiriça com Bolívia e Paraguai também reforçou seu papel logístico e comercial.
| Mato Grosso do Sul se destaca no desenvolvimento do agronegócio em todo o estado. Foto: Reprodução |
Mas os desafios persistem: ampliar a infraestrutura, diversificar a economia, reduzir desigualdades regionais e fortalecer áreas como educação e inovação ainda são metas em aberto. Se o agronegócio impulsiona a economia, é o ecossistema único do Pantanal sul-mato-grossense que dá alma ao estado. Corumbá, Aquidauana, Miranda e Ladário abrigam uma das maiores riquezas naturais do planeta – uma planície que se transforma a cada cheia, abriga milhares de espécies e exerce papel vital na regulação hídrica do continente.
Entretanto, a joia enfrenta ameaças constantes: queimadas, desmatamento, crise climática. O ano de 2024 foi um dos mais secos já registrados, acendendo alertas sobre o futuro do bioma. Ao lado do Pantanal, Bonito se tornou vitrine internacional de ecoturismo. Rios transparentes, cavernas e trilhas reforçam o compromisso do estado com o turismo sustentável e a preservação ambiental.
Do autoritarismo à democracia
Os primeiros governadores foram nomeados por Brasília, reflexo da centralização militar. Mas com a redemocratização, Mato Grosso do Sul passou a trilhar seus próprios caminhos eleitorais. A estrutura administrativa se moldou, surgiram novas secretarias, escolas, hospitais, estradas. Campo Grande, a capital escolhida, tornou-se o coração pulsante de um estado em transformação. Com terras férteis e localização estratégica, Mato Grosso do Sul se consolidou como potência agrícola. A produção de soja, milho e carne bovina ganhou destaque nacional. Sua posição fronteiriça com Bolívia e Paraguai também reforçou seu papel logístico e comercial.
Mas os desafios persistem: ampliar a infraestrutura, diversificar a economia, reduzir desigualdades regionais e fortalecer áreas como educação e inovação ainda são metas em aberto.
Pantanal e Bonito: a alma verde do estado
Se o agronegócio impulsiona a economia, é o ecossistema único do Pantanal sul-mato-grossense que dá alma ao estado. Corumbá, Aquidauana, Miranda e Ladário abrigam uma das maiores riquezas naturais do planeta – uma planície que se transforma a cada cheia, abriga milhares de espécies e exerce papel vital na regulação hídrica do continente.
| O estado concentra grande diversidade em seu bioma. Foto: Reprodução |
Ao lado do Pantanal, Bonito se tornou vitrine internacional de ecoturismo. Rios transparentes, cavernas e trilhas reforçam o compromisso do estado com o turismo sustentável e a preservação ambiental.
A força do interior e da cultura
Longe de ser uma capital dependente, Mato Grosso do Sul viu o interior ganhar protagonismo. Dourados, Três Lagoas, Ponta Porã e tantas outras cidades se fortaleceram politicamente e economicamente, reivindicando autonomia e voz ativa.
Ao mesmo tempo, a diversidade cultural pulsa nas festas populares, na música sertaneja, no tereré compartilhado e na convivência entre etnias indígenas, descendentes de migrantes e comunidades tradicionais. Apesar das conquistas, a origem de Mato Grosso do Sul ainda é debatida por historiadores. A ausência de consulta popular, o papel da elite ruralista e os reais interesses por trás da divisão seguem em discussão. O que é certo, porém, é que o tempo permitiu ao estado construir sua própria narrativa – não como extensão do passado, mas como protagonista de seu futuro.
